O Obsessivo Não Se Limpa Energeticamente

O obsessivo é aquele que não solta nada. Acumula objetos, pensamentos, mágoas, ressentimentos. É como uma esponja que absorve tudo do mundo ao redor, mas nunca se permite espremer. Vai guardando, guardando, guardando… até ficar pesado demais. Exausto. Travado. Sem energia para viver de verdade.

Ele precisa parecer perfeito. Sempre correto, educado, certinho, controlado. Não pode mostrar raiva, frustração, desejo. Não pode ter falhas. E isso não acontece só no comportamento externo — acontece também energeticamente. Ele não se permite limpar o que acumula. Não pisa na areia para descarregar. Não toma um banho de cachoeira. Não medita, não faz exercício com a intenção de liberar o que pesa.

Porque, se fizesse isso, estaria admitindo que há sujeira dentro dele. Que ele não é puro. Que carrega algo denso, negativo, proibido. E isso é inaceitável para o ideal de perfeição que ele tenta manter a todo custo.

O curioso é que o obsessivo vive tudo ao contrário. Faz tudo do avesso. Onde deveria impor limites, ele negligencia. Onde deveria soltar, ele agarra. Com os filhos, por exemplo, ele castra justamente onde deveria permitir — a liberdade, a expressão, o erro. E solta onde deveria segurar — nas regras, nos limites, na estrutura.

É como se ele não conseguisse enxergar que seu próprio jeito de viver contradiz tudo o que ele tanto busca. Ele quer a vida perfeita, mas age de forma completamente desalinhada com essa perfeição. Repete os mesmos padrões desequilibrados e ainda espera que o resultado mude. É tolice, mas é também tragédia. Porque ele não percebe.

O obsessivo foca muito na sua mente – no mundo das ideias, das fantasias, do controle imaginário. Passa horas ruminando pensamentos, planejando cenários, organizando tudo mentalmente. Mas quando chega a hora de agir na realidade física, ele trava. Não consegue sair da imaginação para a ação concreta. E o problema é que estamos aqui, agora, num corpo físico, num mundo material. Viemos experimentar isso. Sentir, errar, aprender, viver.

Não dá para ficar só pensando. Não dá para viver apenas no mundo interno. A vida acontece lá fora também. E ela pede movimento, risco, imperfeição. Pede que a gente se suje, se limpe, se suje de novo. Que solte o que pesa. Que expresse o que incomoda. Que erre e tente de novo.

O obsessivo precisa entender que pureza não é nunca se sujar. Pureza é saber se limpar. É permitir que a energia circule. Que entre e saia. Que haja fluxo. Vida é movimento. E movimento exige desapego — de objetos, de pensamentos, de padrões antigos que já não servem mais.

Ele precisa aprender a espremer a esponja. Deixar ir embora o que não é seu. Parar de absorver tudo o que vem do mundo como se fosse sua responsabilidade carregar o peso dos outros. Precisa entender que ter raiva às vezes é saudável. Que chorar limpa. Que gritar libera. Que não há nada de errado em ser humano, imperfeito, limitado.

A vida não está na cabeça. Está aqui, agora, no corpo, no chão, na ação. E enquanto ele continuar vivendo do avesso, tentando controlar tudo para parecer perfeito, vai continuar preso, pesado, sem ar. A libertação começa quando ele finalmente solta. Quando deixa a vida fluir através dele, e não apenas acumular dentro de si.

Paula Teshima

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