A Ilusão do Conforto: Por Que Evitar Problemas é Desperdiçar Sua Encarnação

Há uma ilusão perigosa que muitos carregam: a ideia de que estamos aqui para sermos felizes o tempo todo, para evitar sofrimento, para construir uma vida perfeitamente controlada e confortável. Mas a verdade espiritual é mais crua e, paradoxalmente, mais libertadora: viemos à Terra para aprender, não para relaxar.

Pense na Terra como uma escola. Você não se matricula numa universidade para ficar apenas conversando na lanchonete. Você vai para enfrentar provas, desafios, conceitos difíceis que esticam sua compreensão. Se você só frequenta a lanchonete e evita as aulas, tecnicamente está na escola, mas não está realmente estudando.

Quando alguém diz “minha vida está perfeita, não tenho problemas”, duas coisas podem estar acontecendo: ou essa pessoa alcançou um nível de consciência tão elevado que já transcendeu as lições terrestres – e nesse caso, logo desencarnará para continuar sua jornada em planos mais avançados – ou, mais provavelmente, está evitando as aulas. Está fugindo do desconforto, blindando-se das experiências que trariam crescimento real.

A psicanálise confirma isso de outro ângulo. Freud descobriu que evitamos sistematicamente aquilo que nos confronta com nosso inconsciente. Criamos defesas elaboradas – negação, repressão, racionalização – para não olhar nossas feridas. Jung foi além: ele disse que aquilo que evitamos se torna nosso destino. As lições não aprendidas voltam, em ciclos, cada vez mais intensas, até que finalmente as enfrentemos.

Na espiritualidade, esse conceito é ainda mais claro. A doutrina espírita, por exemplo, ensina que a Terra é um planeta de provas e expiações. Não viemos aqui para colher apenas flores; viemos para cultivar o jardim, arrancar ervas daninhas, enfrentar tempestades. Cada dificuldade é um convite ao crescimento, cada dor é uma professora disfarçada.

Isso não significa buscar sofrimento masoquistamente. Significa parar de tentar controlar obsessivamente a vida para evitar todo desconforto. Significa entender que quando um relacionamento te desafia, quando um trabalho te frustra, quando uma perda te quebra, você não está sendo punido – você está sendo educado.

As pessoas que alcançaram verdadeira maestria espiritual não viveram vidas tranquilas. Buda abandonou o palácio e meditou sob uma árvore enfrentando seus demônios internos. Cristo carregou sua cruz. Todos os mestres atravessaram o vale das sombras. Não apesar disso, mas por causa disso, alcançaram iluminação.

Quando você controla excessivamente sua vida, criando uma bolha de conforto e evitando riscos emocionais, você está, na verdade, travando sua evolução. Está dizendo ao universo: “não quero aprender mais”. E aí sua alma estagnou enquanto você envelhece biologicamente.

A verdadeira coragem não é evitar as tempestades, é navegar através delas. Não é ter uma vida sem problemas, mas desenvolver a força para enfrentá-los. Cada pessoa difícil que cruza seu caminho é um espelho mostrando algo em você que precisa ser trabalhado. Cada fracasso é uma redireção. Cada perda é um esvaziamento necessário para que algo novo nasça.

Então, se sua vida parece difícil agora, talvez seja porque você finalmente está frequentando as aulas, e não apenas ficando na quadra de esportes. E isso, espiritualmente falando, é um sinal de que você está aproveitando sua matrícula nesta escola chamada Terra.

Paula Teshima

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