Muitas vezes, observamos certos comportamentos que parecem estranhos ou até desconexos, mas que revelam uma dimensão mais profunda da existência. Um exemplo notável são os bebês. Eles frequentemente parecem “aéreos”, desligados do mundo ao seu redor, demorando a atender o chamado de seus pais. Esse atraso, que poderia ser interpretado como desatenção, na verdade reflete um estado de conexão intensa com o plano espiritual. Enquanto o corpo está no mundo físico, a mente do bebê ainda se encontra em uma esfera mais sutil, absorvendo impressões e percepções que não se limitam à experiência concreta.

O mesmo fenômeno pode ser observado nos adultos. Quando estamos preocupados, ansiosos ou imersos em pensamentos sobre o futuro ou o passado, nossa atenção se distancia do momento presente. O que se passa no agora, no espaço imediato à nossa volta, passa despercebido, e nossa resposta ao mundo físico demora a se manifestar. É como se parte de nós permanecesse conectada a uma realidade mais ampla, a um plano de percepção mais profundo que não se manifesta de forma direta, mas que influencia nossos pensamentos, sentimentos e ações.

Curiosamente, essa sensibilidade não é exclusiva dos humanos. Animais domésticos, especialmente os gatos, também demonstram comportamentos que sugerem essa conexão com o plano espiritual. É comum perceber um gato imóvel, aparentemente contemplando o nada, com seus olhos fixos em pontos invisíveis ao olhar humano. Ele pode reagir de forma súbita ou demorada ao chamado, como se estivesse dividido entre o espaço físico e uma realidade invisível. Essa postura silenciosa e observadora, muitas vezes interpretada como preguiça ou distração, revela uma consciência desperta que ultrapassa o mundo material.

Reconhecer esses momentos de “desligamento” nos bebês, nos adultos e nos animais é compreender que a vida não se limita à tangibilidade do físico. Há dimensões sutis, experiências interiores e percepções espirituais que coexistem com nossa rotina cotidiana. A atenção, nesses momentos, está dividida, refletindo a delicada dança entre o céu e a terra, entre o físico e o espiritual. Ao perceber essa conexão, podemos aprender a valorizar o silêncio, a contemplação e o tempo necessário para que a mente retorne ao presente, trazendo equilíbrio e consciência plena.

Paula Teshima