O neurótico carrega dentro de si uma crença profunda e dolorosa: a de que é possível ser perfeito, correto, impecável enquanto caminha sobre a Terra. Ele persegue essa imagem idealizada com toda sua força, sem perceber que está lutando contra a própria natureza da existência terrena. E nessa luta impossível, adoece.
Quando nascemos, chegamos completamente conectados ao plano espiritual de onde viemos. Somos pura essência, desintegrados da matéria. Mas estamos aqui justamente para viver a experiência material, e isso exige que integremos essa dimensão densa em nosso ser. É como se precisássemos descer do céu e pisar na terra, sentir a lama entre os dedos, conhecer o peso da gravidade. O neurótico, porém, resiste a esse movimento. Ele permanece com um pé no céu, conectado demais ao espiritual, incapaz de aceitar plenamente a realidade terrena com todas as suas imperfeições, seus instintos, seus desejos que não cabem no ideal de pureza.
Essa recusa tem raízes profundas na infância. A criança que cresce sob olhares exigentes e críticos de pais que condicionavam o amor à perfeição, aprende uma lição devastadora: “Só serei amado se for impecável”. Ela tenta desesperadamente atender a essas expectativas impossíveis, moldando-se, suprimindo-se, polindo cada gesto na esperança de finalmente receber o carinho e o afeto que tanto necessita. Mas esse amor condicional nunca chega, ou chega tão rarefeito que não alimenta a alma. E a criança cresce levando essa ferida, repetindo o mesmo padrão com o mundo: tentando ser perfeita, certinha, agradadora, na eterna esperança de ser finalmente aceita e amada.
Mas aqui está a verdade libertadora que o neurótico precisa compreender: ele só conseguirá ser plenamente perfeito, completo, onipotente quando desencarnar e retornar ao seu verdadeiro lar espiritual. Lá, sim, existe apenas a dimensão espiritual, onde ele pode sentir-se inteiro e pleno. Aqui na Terra, porém, é necessário renunciar um pouco dessa conexão espiritual para ter os aprendizados que veio buscar.
Viver na Terra significa integrar luz e sombra, céu e chão, espírito e matéria. Significa reconhecer que existem desejos e impulsos vindos do id que podem contradizer os ideais elevados do superego. E tudo bem. Esses impulsos “negativos” fazem parte do ser humano, fazem parte da experiência terrena. O ideal de perfeição não precisa ser abandonado, mas reposicionado: ele serve como referência, como uma estrela que nos orienta, não como uma meta a ser alcançada agora.
A cura da neurose passa por essa integração. Manter-se conectado ao plano espiritual para canalizar ideias e sabedorias do seu Eu Superior, fortalecer o ego o suficiente para dar vazão a esses impulsos – seja através da realização, da renúncia consciente ou da sublimação, transformando essa energia em atividades produtivas e benéficas para si e para a humanidade. Quando o neurótico consegue olhar para seus desejos sem julgamento, reconhecê-los e satisfazê-los de forma saudável, ele para de adoecer. Deixa de se reprimir, de se negar, e permite que a vida flua com prazer, satisfação e alegria genuína.
Paula Teshima