Quando o Corpo Esquece de Desejar

Existe um tipo de cansaço que não tem explicação óbvia. Você não fez nada de especial, mas está exausto. E ao mesmo tempo, não consegue parar. Vive ocupado, produtivo, sempre fazendo algo. Parece contraditório, mas faz todo sentido quando olhamos para onde sua energia está sendo gasta.
A energia vital, aquela que nos mantém vivos, criativos e desejantes, nasce da sexualidade. Não apenas do ato sexual em si, mas daquela força criativa, pulsante, que nos move em direção ao prazer e à vida. Quando reprimimos essa energia — por medo, culpa ou vergonha —, ela não desaparece. Fica presa. E manter algo preso exige esforço constante.
Algumas pessoas reprimem tanto seus desejos sexuais que param completamente de senti-los. Não é que não tenham libido. É que trancaram tão bem essa porta que nem lembram mais que ela existe. São aquelas que se dizem assexuais, que simplesmente “não sentem vontade”. Mas talvez não seja ausência de desejo. Talvez seja por conta de uma repressão tão eficiente que o próprio corpo desistiu de avisar.
Imagine alguém que descobre em si um desejo que julga proibido — homossexualidade, por exemplo. Se essa pessoa cresceu num ambiente que condena isso, pode reprimir com tanta força que, para garantir que esse desejo não volte, acaba reprimindo toda a sexualidade. Porque se ela permitir sentir qualquer outro desejo sexual, corre o risco de o desejo proibido também aparecer. Então é mais seguro não sentir nada.
E o que acontece com toda aquela energia? Ela não evapora. Ela é redirecionada, deslocada. A pessoa pode, por exemplo, se tornar extremamente produtiva. Trabalha muito, estuda muito, faz mil coisas ao mesmo tempo. Não consegue descansar. Não consegue simplesmente ser. Precisa estar sempre ocupada, sempre fazendo, sempre se provando.
Por fora, parece que está tudo bem. Ela não adoece visivelmente. Não demonstra fraqueza. É eficiente, responsável, confiável. Mas, por dentro, há uma rigidez enorme. Uma personalidade cheia de inibições. Ela não se permite errar, relaxar, sentir prazer de verdade. Vive seguindo regras internas rígidas: ser correta, certinha, perfeita, boazinha.
Toda a energia sexual que deveria estar fluindo naturalmente está sendo gasta em atividades compensatórias. É como se ela estivesse constantemente desviando o rio para que ele não siga seu curso natural. E isso cansa. Mesmo que ela não perceba conscientemente, o corpo sente.
Essas pessoas não desfrutam a vida em sua plenitude. Não se permitem os prazeres simples que estar num corpo humano oferece. Não apenas o sexo, mas o toque, o descanso, a entrega, o êxtase. Vivem numa postura de controle permanente. E controlar o tempo todo é exaustivo.
O problema não é ser assexual por natureza. O problema é quando a ausência de desejo vem da repressão, não da essência. Quando você não sente porque tem medo de sentir, ou quando não quer porque acha que não deve querer.
A energia sexual é criativa. É a força que nos move, que nos faz querer viver, criar, se expressar. Reprimi-la é cortar a própria fonte de vitalidade. Você pode até continuar funcionando, sendo produtivo, cumprindo obrigações. Mas há uma parte de você — a mais viva, a mais espontânea, a mais verdadeira — que fica trancada, esperando permissão para existir. E enquanto ela não recebe essa permissão, você continua cansado, esgotado. A energia que poderia estar alimentando sua vida está sendo gasta demais para manter as portas fechadas.
Paula Teshima