O Problema que Não é Só um Problema

Quando alguém procura terapia, geralmente vem com uma queixa específica. “Não consigo dormir.” “Brigo demais com meu parceiro.” “Sinto ansiedade o tempo todo.” A pessoa acredita que é só mais um problema a ser resolvido. Algo pontual que precisa de uma solução rápida. Mas raramente é só isso.
Nada acontece por acaso. Se essa dor apareceu agora, nesse momento da sua vida, com essa pessoa, nessa situação — há um motivo. Algo mais profundo está tentando emergir. E é aí que os caminhos se dividem.
A psicologia tradicional pode ajudar oferecendo ferramentas práticas. Técnicas de respiração para ansiedade. Práticas de comunicação assertiva para melhorar o relacionamento. Dicas de higiene do sono. E isso funciona, até certo ponto. Você aprende a lidar melhor com os sintomas. Mas a raiz continua lá, intocada.
A psicanálise vai pelo caminho oposto. Ela não ensina o que fazer. Ela te ajuda a descobrir por que você faz. Ela não oferece soluções prontas, mas te convida a investigar, pensar, refletir. E quando você finalmente encontra a causa — aquele nó antigo, aquela ferida esquecida, aquele padrão herdado — algo muda de verdade. Os sintomas não precisam mais existir. Eles eram apenas mensageiros. E agora que a mensagem foi ouvida, podem ir embora.
O interessante é que quem busca psicanálise muitas vezes descobre mais coisas mal resolvidas do que inicialmente veio buscar. Você entra querendo entender por que briga tanto com seu parceiro e descobre que, na verdade, está repetindo a relação dos seus pais. Ou percebe que sua ansiedade não é sobre o futuro — é sobre não ter tido permissão de sentir medo na infância.
O inconsciente só mostra o que você já tem condições de encarar. Se uma ferida veio à tona agora, é porque você está pronto para lidar com ela. Não significa que será fácil. Significa que é possível. E que está na hora.
Muita gente não se vê como emocionalmente adoecida. Acha que é só uma questão de hábito ruim. “Aprendi errado, agora preciso aprender certo.” Mas não é bem assim. Você não repete padrões por burrice ou falta de informação. Você repete porque há algo inconsciente comandando suas ações. Algo que você ainda não viu.
É como tentar arrancar uma planta apenas cortando as folhas. Ela volta a crescer. Porque a raiz continua viva, alimentando o mesmo ciclo. Enquanto você não cavar fundo e chegar nela, vai continuar cortando as folhas para sempre.
A psicanálise cava. Ela vai até o fundo. E sim, dói, incomoda, traz à tona coisas que você preferiria não ver. Mas é justamente aí que mora a liberdade. Porque uma vez que você vê, você escolhe. Antes disso, você apenas repete.
Na psicanálise, as próprias sessões já são o tratamento. Falar, desabafar, se ouvir, entrar em contato com sentimentos que estavam presos — isso já cura. Não é o analista que resolve seus problemas. É o próprio paciente, ao se permitir olhar para o que sempre evitou.
No fim, o que parecia ser apenas um problema pontual se revela como porta de entrada para algo muito maior. Um convite para se conhecer de verdade. Para parar de viver no automático e começar a fazer escolhas conscientes. Para deixar de ser refém do passado e se tornar autor da própria história.
E tudo começa quando você para de cortar somente as folhas e decide, finalmente, olhar para a raiz.
Paula Teshima