Reprimir é uma estratégia que muitas pessoas utilizam, muitas vezes sem perceber, para lidar com os problemas que enfrentam — tanto os internos quanto os externos. Trata-se de uma tentativa de escapar de situações desconfortáveis ou de emoções dolorosas, escondendo-as da consciência. Em vez de encarar a realidade de frente, com coragem e reflexão, algumas pessoas optam por ignorar o que as incomoda, fingindo que os problemas simplesmente não existem. A princípio, isso pode parecer uma solução simples, uma forma de alívio momentâneo, mas a verdade é que a repressão raramente resolve alguma coisa de forma definitiva.
Quando uma pessoa reprime seus sentimentos ou evita enfrentar os desafios da vida, ela cria um espaço ilusório de tranquilidade. É como se, ao ignorar o problema, este desaparecesse magicamente. Por alguns dias, semanas ou até meses, a sensação de alívio pode ser real. A mente se engana, acreditando que a situação foi superada, pois ela não está mais presente na superfície da consciência. Esse mecanismo psicológico pode até ser útil em situações de extrema pressão ou perigo imediato, funcionando como uma espécie de escudo provisório.
No entanto, a repressão tem um limite. Quanto mais tempo alguém tenta evitar lidar com seus problemas, mais eles tendem a retornar — muitas vezes de maneira mais intensa e disruptiva. O que foi ignorado não desaparece; apenas permanece escondido, acumulando energia e ansiedade. Emoções como raiva, tristeza, culpa ou medo, quando reprimidas, não se dissipam. Elas se transformam em tensões internas, gerando sintomas físicos ou comportamentais, como insônia, irritabilidade, procrastinação ou compulsões.
A dinâmica da repressão também interfere na vida cotidiana. Uma pessoa que constantemente evita seus conflitos internos ou externos pode se tornar rígida, defensiva ou exageradamente controladora. Isso acontece porque, inconscientemente, ela está tentando manter tudo “sob controle” para que nada do que foi reprimido venha à tona. Mas a vida, por sua própria natureza, é imprevisível, e as situações desafiadoras sempre encontram um caminho para se manifestar. Assim, a repressão, que parecia funcionar como proteção, se transforma em uma fonte contínua de sofrimento e frustração.
Reconhecer que se está reprimindo algo é o primeiro passo para quebrar esse ciclo. Esse processo exige coragem, honestidade consigo mesmo e disposição para enfrentar sentimentos e situações que talvez tenham sido ignorados por muito tempo. Encarar o problema de frente não significa que ele será resolvido imediatamente, mas é o caminho para compreender suas causas, integrar as experiências e encontrar soluções mais conscientes e duradouras.
Na psicanálise, ao dar atenção ao que foi reprimido, a pessoa aprende a lidar com suas emoções de forma saudável. Em vez de fugir, ela passa a compreender os padrões de comportamento, os medos e as defesas que moldaram sua vida até aquele ponto. A consciência é a ferramenta que transforma o problema em aprendizado, permitindo que ele não se repita de maneira inconsciente e destrutiva.
Portanto, a repressão deve ser vista como um sinal de alerta, uma indicação de que há algo que precisa ser olhado de perto. Quanto mais cedo alguém se dispõe a enfrentar seus desafios internos e externos, menores são as chances de que eles voltem de forma mais intensa e dolorosa. Ignorar a realidade pode parecer mais fácil, mas a vida insiste em cobrar aquilo que foi deixado de lado. Olhar para dentro, com honestidade e coragem, é o único caminho para libertar-se da repetição, reduzir o sofrimento e viver de forma mais plena e consciente.
Paula Teshima