Existem pessoas cuja serenidade aparente impressiona: sempre calmas, amigáveis, pacíficas, raramente se irritam ou perdem o controle. Parecem habitar naturalmente um estado que transita apenas da neutralidade para a positividade. Mas tanto a psicanálise quanto a espiritualidade nos revelam que, por trás dessa fachada harmoniosa, pode existir um desequilíbrio profundo.

Na perspectiva psicanalítica, esse padrão remete ao conceito de recalque. O “não” que não consegue ser dito, a agressividade saudável que fica reprimida no inconsciente, a assertividade que é negada como mecanismo de defesa. Freud nos ensinou que aquilo que reprimimos não desaparece – apenas encontra outras formas de se manifestar. Essas pessoas vivem nos extremos justamente porque não integram sua sombra, negando aspectos fundamentais de sua psique.

Espiritualmente, podemos compreender essa dinâmica como um desequilíbrio nos chakras, especialmente no plexo solar – centro do poder pessoal, da vontade e da autoafirmação. Quando esse centro energético está bloqueado, a pessoa oscila entre a passividade excessiva e explosões de energia densa e descontrolada. Não há um fluxo equilibrado: ou o chakra está completamente fechado ou se abre de forma caótica e negativa.

Essas personalidades frequentemente operam no tudo-ou-nada porque não desenvolveram o que a psicologia chama de “ego saudável” ou o que a espiritualidade reconhece como “centragem”. Trabalham até o esgotamento ou param completamente. Doam-se até se perderem ou se fecham por inteiro. Vivem uma polaridade constante que Jung chamaria de falta de individuação – a incapacidade de integrar os opostos dentro de si.

O grande paradoxo surge quando essas pessoas só conseguem acessar sua força através da negatividade. Quando finalmente irritadas, raivosas ou tensas, encontram uma energia de ação – ainda que desequilibrada – que lhes permite estabelecer limites e dizer não. Psicanaliticamente, é o retorno do reprimido de forma explosiva. Espiritualmente, é o contato com energias densas do ego inferior que temporariamente substitui a força genuína do eu superior.

Mas essa não é sua verdadeira natureza. É apenas uma máscara sobre outra máscara. O caminho tanto da cura psicanalítica quanto da evolução espiritual passa pela integração: reconhecer e aceitar todos os aspectos de si, incluindo a capacidade saudável de ser firme, de estabelecer limites claros e de honrar as próprias necessidades sem precisar da raiva como combustível.