Amar a si mesmo é um caminho delicado, e nem sempre é o que parece. O narcisismo, muitas vezes, se disfarça de amor próprio, mas, na verdade, é amor pela imagem que projetamos ao mundo. O sujeito narcisista se encanta com o reflexo que acredita ser, e teme qualquer sombra que possa distorcer essa imagem. Cada falha, cada erro, cada fragilidade surge como uma ameaça, uma mancha que não deveria existir. Ele observa a própria vida através de um espelho polido, onde só cabem triunfos, virtudes, qualidades — tudo que confirma a grandiosidade de sua persona.

Mas a vida, por natureza, é imperfeita. E as imperfeições existem não para nos destruir, mas para nos lembrar de que somos inteiros, complexos e humanos. O narcisismo exagerado recusa esse contato com a sombra, com a dor, com aquilo que nos mostra fragilidade. É uma prisão delicada, porque amar apenas a imagem é não se permitir sentir, errar, crescer. É temer a si mesmo, porque enxergar o que está oculto pode desestabilizar a fortaleza do ego.

Existe, no entanto, um outro tipo de narcisismo — silencioso, profundo, generoso. É o que permite olhar para dentro sem medo, aceitar falhas sem perder o afeto próprio. Quem o possui sabe que errar não apaga a própria existência, que tropeçar não diminui o valor de quem somos. Ele integra luz e sombra, forças e fragilidades, sem ceder à ilusão de perfeição. Continua se cuidando, se amando, se fortalecendo, mesmo diante das próprias imperfeições.

O narcisismo equilibrado não é vaidade cega, nem arrogância silenciosa. É amor consciente. É perceber que a grandeza do ser não está em ser impecável, mas em ser inteiro. É reconhecer que nossas sombras não nos tornam menores, apenas mais humanos. Amar-se dessa forma é transformar a própria vida em um espaço seguro, onde se pode crescer, cair, levantar, errar e ainda assim continuar digno de afeto e cuidado. É descobrir que o verdadeiro amor por si mesmo não depende de uma imagem perfeita, mas da coragem de abraçar a própria alma.

Paula Teshima