Existe uma profunda verdade espiritual que muitas tradições milenares compartilham: não precisamos nos vingar daqueles que nos direcionam energias negativas. A inveja, a maldade ou o olhar destrutivo do outro são questões que pertencem exclusivamente a quem as emite. Quando compreendemos isso, libertamo-nos de um fardo que nunca foi nosso para carregar.
A psicanálise nos ensina que a projeção é um mecanismo de defesa pelo qual atribuímos aos outros aquilo que não conseguimos reconhecer em nós mesmos. Quando alguém nos ataca sem motivo aparente, frequentemente está lidando com seus próprios conflitos internos. Ao retribuirmos com vingança ou agressividade, não apenas perpetuamos um ciclo destrutivo, como também assumimos um papel que não nos cabe: o de juízes e executores da justiça universal.
As tradições espirituais falam das leis naturais, lei do karma, da reciprocidade cósmica — diferentes nomes para uma mesma sabedoria: cada ação gera sua consequência. Quando escolhemos agir pela vingança, interrompemos esse fluxo orgânico. É como se nos colocássemos no lugar do Criador, das forças universais que operam em tempos e modos que nossa consciência limitada não pode compreender completamente.
Jung diria que estamos usurpando a função do Self, aquela instância superior da psique que conhece o caminho de individuação necessário para cada ser. Não sabemos qual lição a outra pessoa precisa aprender, em que intensidade, em que momento. Nossa intervenção vingativa pode ser inadequada, desproporcional ou simplesmente ineficaz para o despertar consciencial que aquela alma necessita.
Há algo ainda mais sutil nessa dinâmica: quando reagimos ao jogo do outro, entramos no mesmo campo vibracional, na mesma frequência. Criamos um vínculo energético que nos mantém conectados àquela pessoa e àquela situação. É o que a psicanálise chama de fixação — permanecemos psiquicamente atados ao objeto de nosso conflito. Paradoxalmente, ao tentar nos livrar do outro através da vingança, acabamos nos aprisionando ainda mais.
Por outro lado, quando não entramos no jogo, quando simplesmente não ressoamos com aquela energia, algo notável acontece: a pessoa joga sozinha e recebe de volta sua própria energia. Não por nossa ação, mas pela própria dinâmica das leis naturais. E esse retorno, quando vem das forças universais, é muito mais preciso, impactante e transformador do que qualquer punição humana poderia ser.
Nossa verdadeira tarefa não é corrigir, punir ou forçar o outro. É trabalhar nosso mundo interno: investigar por que aquela situação nos afetou, praticar o perdão, aceitar que cada um está em seu próprio estágio evolutivo. É renunciar ao papel inflado do ego que se acredita superior, guru ou salvador.
No silêncio da não-reação, cultivamos desapego e confiança nas leis maiores. Cada um receberá exatamente aquilo que necessita, no tempo certo, da maneira certa. Nossa responsabilidade é apenas cuidar de nossa própria consciência, deixando que o universo — ou o inconsciente coletivo, ou Deus — cuide do resto com sua sabedoria infinita.
Paula Teshima