Quando uma pessoa mantém uma imagem idealizada de si mesma elevada, frequentemente enfrenta um enorme desafio interno: equilibrar essa imagem com suas necessidades, desejos e impulsos. O ideal que ela construiu funciona como um padrão rígido, quase inatingível, e qualquer falha, qualquer desvio, é percebido como ameaça à sua integridade. Essa visão idealizada é reforçada por um superego severo, que atua como juiz interno, regulando comportamentos, pensamentos e sentimentos, e impondo limites extremamente rígidos.

O superego rigoroso impede que a pessoa explore suas emoções e impulsos de forma consciente e saudável. Em vez de refletir sobre seus desejos ou frustrações, ela os reprime. Essa repressão não é neutra; é uma força ativa que mantém o indivíduo preso a uma estrutura interna rígida, afastando-o da possibilidade de compreender, integrar e transformar esses impulsos em ações construtivas. Sem essa oportunidade de exame consciente, os impulsos não desaparecem; eles permanecem, comprimidos, criando tensão psíquica e emocional.

Indivíduos com uma estrutura egoica frágil são particularmente vulneráveis a esse mecanismo. Um ego frágil não possui recursos internos suficientes para lidar com conflitos internos intensos. Ele depende fortemente da aprovação externa, da manutenção da imagem idealizada e da obediência às exigências do superego para se sentir seguro e íntegro. Quando confrontados com desafios ou emoções que não conseguem controlar, essas pessoas podem experienciar uma sobrecarga emocional que o ego não consegue administrar sozinho.

O resultado dessa dinâmica é um terreno fértil para o adoecimento neurótico. A repressão constante gera ansiedade, culpa, medo de falhar e sentimentos de inadequação. O indivíduo está preso em um ciclo no qual o superego exige perfeição, o ego se esgota tentando mantê-la, e os impulsos reprimidos se manifestam de maneiras indiretas, como sintomas somáticos, obsessões, compulsões ou comportamentos autossabotadores. Cada tentativa de ignorar os próprios desejos ou sentimentos reforça o sofrimento, criando um padrão de sofrimento interno contínuo.

Além disso, essa estrutura limita a capacidade da pessoa de aprender com suas próprias experiências emocionais. Impulsos naturais que poderiam ser examinados, compreendidos e transformados em comportamentos adaptativos são bloqueados antes mesmo de serem explorados. A repressão impede o desenvolvimento de uma inteligência emocional autêntica, de uma percepção realista das próprias capacidades e vulnerabilidades, e da construção de estratégias saudáveis de enfrentamento.

Portanto, o indivíduo fica preso entre a exigência interna de perfeição e a impossibilidade de realizar plenamente seus desejos e necessidades. Essa tensão constante não apenas prejudica a saúde mental, mas também interfere nas relações interpessoais, na autopercepção e na capacidade de vivenciar a vida de forma plena. A superação desse padrão exige, muitas vezes, uma intervenção consciente, seja por meio da psicanálise, psicoterapia ou práticas de autoconhecimento, que permitam explorar os impulsos reprimidos, flexibilizar o superego e fortalecer o ego para lidar com a realidade sem adoecer.

Em última análise, compreender a relação entre imagem idealizada, superego rigoroso e fragilidade do ego é essencial para reconhecer como a repressão se estabelece e como ela pode ser transformada em crescimento e equilíbrio emocional.

Paula Teshima