A psicose e a neurose representam diferentes formas de lidar com a vida e a realidade, e suas origens estão profundamente ligadas à maneira como o indivíduo foi acolhido nos primeiros anos de vida. No caso dos psicóticos, podemos pensar neles como bebês que não receberam o acolhimento necessário de seus cuidadores. Essa dificuldade inicial de adaptação ao mundo físico faz com que mantenham uma conexão mais intensa com a dimensão espiritual inata, aquela parte de nós que existe antes mesmo de vivenciarmos o corpo e a matéria. No entanto, viver plenamente na Terra exige que tenhamos ao menos uma parcela da nossa personalidade integrada ao mundo material. Sem essa integração, a experiência terrena se torna desafiadora e limitada.
Os psicóticos, por estarem mais voltados para essa realidade espiritual interna, costumam utilizar de forma mais intensa o lado direito do cérebro, responsável pelas atividades intuitivas, criativas e canalizadoras. Essa preferência cerebral não é, por si só, um problema; torna possível a criação e percepção de aspectos sutis da existência. Entretanto, quanto maior a desconexão com o plano material, mais frequentes e intensos podem ser os delírios e alucinações, assim como as dificuldades no desenvolvimento intelectual, afetando memória, raciocínio e linguagem.
Por outro lado, os neuróticos (obsessivos e histéricos), apresentam um grau de dificuldade menor. Isso se deve ao fato de terem sido um pouco mais acolhidos nos primeiros anos de vida, conseguindo assim estabelecer uma relação mais sólida, ainda que parcial, com o mundo físico. Ainda assim, essas pessoas enfrentam problemas para aceitar a realidade como ela é, frustrando-se ou decepcionando-se com frequência. Para lidar com essas frustrações, recorrem às fantasias mentais, criando realidades internas que lhes proporcionam algum conforto.
A neurose, portanto, se caracteriza por uma mistura constante entre realidade e fantasia. O neurótico enxerga os problemas sob uma perspectiva dupla: um aspecto material, consciente, e outro sutil, inconsciente, alimentado por suas fantasias. Essa fusão pode gerar um medo intenso e exagerado diante de determinados desafios. Além disso, o neurótico tende a transferir suas questões internas mal resolvidas para as relações objetais, projetando seus conflitos sobre pessoas ou situações externas. Essa dinâmica envolve uma introversão da libido: parte da energia que deveria estar voltada ao mundo externo é redirecionada ao mundo interno, fortalecendo as fantasias e criando inúmeras possibilidades imaginárias.
Tanto os neuróticos quanto os psicóticos acabam se desconectando da realidade material, mas de formas distintas. Enquanto o neurótico se afasta parcialmente, refugiando-se no mundo da fantasia, o psicótico rompe mais radicalmente com a realidade, direcionando sua energia psíquica para o próprio ego, gerando delírios e alucinações. É importante compreender que o delírio em si não é necessariamente o problema; trata-se de uma tentativa do ego de se organizar, de se curar, de restabelecer a ligação com os objetos. O que pode ser prejudicial é a forma como ele é utilizado, podendo afastar ainda mais a pessoa da vida concreta e funcional.
Frequentemente, essas pessoas vivem iludidas com a dimensão espiritual, acreditando que é possível materializar seus desejos apenas pelo pensamento, sem compreender a necessidade de esforço, ação e aprendizado na realidade física. A espiritualidade tem um papel complementar: ela pode orientar, nutrir e fortalecer, mas não substitui a prática, o trabalho e a experiência no mundo material. Viver restrito a desejos e expectativas irreais impede a realização do propósito e do crescimento espiritual. A conexão espiritual se torna verdadeiramente útil quando nos permite meditar, refletir e nos alinhar com nosso eu interior, oferecendo orientação para que possamos fluir em harmonia com a vida, equilibrando o plano material e o espiritual.
Em suma, integrar nossa experiência material e espiritual é essencial para viver de forma plena. Sem essa integração, o ego pode se perder na fantasia ou na ilusão, seja em níveis mais leves, como na neurose, seja de forma mais intensa, como na psicose. Compreender essas dinâmicas é um passo para lidar melhor com nossas limitações, aceitar a realidade como ela é e crescer, tanto no mundo físico quanto no mundo espiritual.
Paula Teshima