Antes de nascer, o bebê vive um estado de quietude profunda. No útero, ele dorme, conectado a uma realidade mais sutil, um espaço onde tudo é livre, ilimitado, infinito. Ao nascer, o sono continua sendo predominante: a criança ainda precisa de tempo para se adaptar à vigília, ao mundo físico. Aos poucos, ela desperta, torna-se mais presente, mais atenta à vida ao redor. Esse processo revela algo essencial: estar desperto é estranho para nós, pois viemos de outro lugar, de outro plano. Ganhar consciência significa conquistar o mundo físico, mas também deixar para trás um paraíso de liberdade absoluta. Para viver plenamente aqui, precisamos aceitar limites, enfrentar desafios e aprender lições que só a densidade deste planeta pode ensinar.
Despertar não é apenas abrir os olhos. O primeiro despertar nos conecta à realidade física. O segundo nos desperta para a própria vida, permitindo enxergar a existência com novos olhos. Somos condicionados desde cedo a acreditar em ilusões e verdades distorcidas, que moldam a percepção de nós mesmos e do mundo. Superar essas ilusões é essencial para compreender nosso propósito e caminhar com clareza.
Não estamos na Terra por acaso. Cada nascimento, cada família, cada circunstância carrega um plano cuidadosamente traçado. Viemos aprender, crescer e evoluir. Este planeta é uma escola rigorosa, que oferece lições duras, mas fundamentais. Quando ainda estamos apegados ao plano espiritual idealizado, como acontece com os neuróticos, a adaptação à vida material se torna difícil. As lições podem parecer injustas, e o mundo, hostil. Mas aceitar os desafios é parte do aprendizado: é assim que a alma evolui.
Os primeiros meses de vida são decisivos. A presença do cuidador é fundamental para que o bebê integre sua experiência: sentir o corpo, perceber o mundo externo, construir confiança e autoestima. Segurá-lo, tocar, chamar pelo nome, atender às necessidades básicas: tudo isso molda a capacidade de amar, criar, acreditar que o mundo é um lugar seguro. Quando esses cuidados faltam ou chegam tarde demais, o bebê cresce com a sensação de impotência, acreditando que nada pode mudar, que a vida é limitada e sem sentido. A criatividade, o desejo, a fantasia da onipotência, são prejudicados.
Mesmo diante de traumas, nada acontece por acaso. Antes de reencarnarmos, escolhemos nossa família, nosso lar, nossas experiências. Cada desafio contém lições, cada dor traz oportunidades de transformação. A vida nos dá surpresas, sincronicidades e reviravoltas para que possamos crescer. Quanto maior a dificuldade, maior a chance de mudança e aperfeiçoamento.
Viver na Terra é aprender a equilibrar opostos: integrar o físico e o espiritual, aceitar limites sem perder a essência, transformar dor em aprendizado e permanecer alinhado com nosso propósito. A jornada humana é um despertar constante: do sono à vigília, da ilusão à consciência, do apego à liberdade interior. Cada passo, cada experiência, cada desafio nos aproxima da plenitude de viver a vida como ela é, com suas lições, encantos e mistérios.
Paula Teshima