A Sabedoria do Negativo: Por Que Evitar a Dor Te Mantém Preso Nela

Existe um movimento espiritual moderno obcecado pela “vibração alta”, pela “energia positiva”, pelo afastamento de tudo que seja denso, pesado ou desconfortável. As pessoas criam bolhas de positividade tóxica, filtram obsessivamente suas experiências, repetem afirmações enquanto reprimem raiva, e se culpam quando inevitavelmente sentem tristeza ou medo. “Não posso baixar minha vibração”, dizem, enquanto constroem prisões douradas de negação.

Mas aqui está a verdade que tanto a psicanálise quanto a espiritualidade autêntica revelam: o negativo não é seu inimigo. Ele é, muitas vezes, o caminho mais direto para o positivo genuíno.

Pense nisso: quando você toca fundo na dor, quando atravessa completamente um luto, quando sente raiva até o fim sem reprimi-la, algo acontece do outro lado. Há uma liberação, uma leveza natural que emerge. Não é forçada, não é performática – é orgânica. Você não precisou “buscar o positivo”; ele simplesmente apareceu porque você limpou o espaço interno ao processar o negativo completamente.

Freud descobriu isso ao observar que sintomas não desaparecem sendo ignorados – eles desaparecem sendo sentidos, compreendidos, elaborados. Jung foi além: a sombra, quando integrada conscientemente, não te destrói; te completa. O ouro está justamente naquilo que você mais rejeita em si mesmo.

Mas a pessoa com ego fraco tem pavor disso. Ela sabe, inconscientemente, que não tem estrutura para mergulhar na tristeza sem se afogar, sentir raiva sem se descontrolar, olhar seus traumas sem fragmentar. Então desenvolve uma estratégia de evitação sofisticada: chama isso de “espiritualidade”, de “cuidar da energia”, de “proteger minha paz”. Quando na verdade está fugindo por medo de não conseguir lidar.

E aí começa uma vida exaustiva de controle. Ela precisa gerenciar cada situação, afastar pessoas “tóxicas” (que geralmente são apenas espelhos inconvenientes), evitar conversas difíceis, censurar pensamentos negativos. Vive em guerra contra a própria humanidade, tentando forçar-se a ser sempre luminosa, sempre grata, sempre em paz. É uma tirania do positivo que esgota mais do que qualquer depressão honesta.

O paradoxo é que quem tem ego forte o suficiente não precisa dessa vigilância constante. Essa pessoa pode deixar a vida acontecer. Se vem problema, ela encara. Se vem dor, ela sente. Se vem fracasso, ela processa. Não porque é masoquista, mas porque confia na própria capacidade de atravessar. Ela sabe que do outro lado de cada desafio bem enfrentado há crescimento real, não positividade fingida.

Espiritualmente, isso se traduz assim: você não evolui fugindo da densidade; você evolui atravessando-a conscientemente. A Terra é uma escola de alquimia onde se transforma chumbo em ouro. Mas você precisa tocar o chumbo. Precisa sujar as mãos. Quem fica apenas lendo sobre alquimia sem experimentar nunca transmuta nada.

A verdadeira elevação espiritual não vem de evitar o negativo, mas de relacionar-se com ele de forma madura. Não reprimir a raiva, mas compreendê-la. Não fugir da tristeza, mas habitá-la até que ela revele seu ensinamento. Não temer o fracasso, mas extrair dele sabedoria.

E então, naturalmente, sem esforço, você se encontra em frequência mais alta. Não porque forçou, mas porque limpou. Não porque fingiu, mas porque integrou. O positivo genuíno não é negação do negativo – é sua digestão completa.

Portanto, fortaleça seu ego. Não para evitar a vida, mas para vivê-la integralmente. Porque só quem tem raízes fortes pode se permitir a tempestade. E só quem atravessa tempestades conhece verdadeiramente o sol.

Paula Teshima

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