A Origem do Apego: Lições Não Aprendidas no Colo Materno

Tudo começa no seio. O bebê mama, sente prazer, segurança, plenitude. Aquele momento é o universo inteiro para ele. Não existe passado, não existe futuro – só aquele calor, aquele leite, aquela conexão. É o primeiro paraíso que conhecemos.
E então vem a primeira grande lição da vida: desapegar. A mãe precisa tirar o bebê do peito. Não porque não o ama, mas justamente porque o ama. Ela sabe que há um mundo inteiro além daquele seio, outras formas de prazer, outros alimentos, outras experiências. Se o bebê ficar eternamente grudado ali, nunca vai descobrir que existe papinha, brincadeira, exploração, autonomia.
Mas aqui está o problema: nem toda mãe ensina isso. Algumas, por culpa, insegurança ou própria carência, mantêm o bebê agarrado demais, por tempo demais. Outras fazem o desmame de forma traumática, abrupta, sem preparo emocional. Em ambos os casos, a criança não aprende a lição fundamental: existe vida depois da perda. Existe prazer em outros lugares. Soltar uma coisa boa não é o fim – é o começo de algo potencialmente melhor.
Freud percebeu isso ao estudar a fase oral. Quando essa etapa não é bem resolvida, a pessoa carrega para vida adulta uma fixação: apega-se demais ao conhecido, tem pavor de soltar, vive procurando substitutos para aquele prazer primordial que nunca foi adequadamente processado. Vira adulto, mas emocionalmente continua como um bebê querendo mamar para sempre.
Na vida prática, isso se manifesta de mil formas. A pessoa fica décadas no mesmo emprego medíocre porque tem medo de arriscar algo novo. Mantém relacionamentos mortos porque não suporta a ideia de ficar sozinha. Usa as mesmas roupas, frequenta os mesmos lugares, repete os mesmos padrões – não por escolha consciente, mas por terror de perder o familiar, mesmo que o familiar seja limitante.
Espiritualmente, esse apego é uma prisão evolutiva. A alma veio à Terra justamente para experimentar multiplicidade, movimento, transformação. Mas o ego apegado diz: “Não. Quero ficar aqui, neste ponto seguro, para sempre.” É como querer ficar eternamente na primeira série porque você tirava notas boas ali. Você está seguro, mas não está crescendo.
A vida, com sua sabedoria cruel, eventualmente força o desapego. Tira seu emprego. Termina seu relacionamento. Muda suas circunstâncias. E a pessoa que nunca aprendeu a soltar entra em colapso. Vive isso como tragédia apocalíptica, quando na verdade é um convite à evolução.
Quem aprendeu desde bebê que soltar não é perder, mas ganhar espaço para o novo, vive diferente. Essa pessoa flui. Quando um caminho fecha, procura outro. Quando uma fonte de prazer seca, busca outra. Não por inconstância, mas por confiança – confiança de que o universo é abundante, de que sempre há mais possibilidades, de que cada final é um começo disfarçado.
A mãe sábia ensina isso aos poucos. Tira o seio, mas oferece o colo. Tira o colo, mas oferece a mão. Tira a mão, mas continua por perto. Vai ampliando gradualmente o mundo do bebê, mostrando que existe segurança na mudança, prazer na novidade, vida além do conhecido.
Quem não teve essa mãe precisa se reparentar. Precisa aprender sozinho, na vida adulta, aquilo que deveria ter aprendido no berço: você pode soltar. Aliás, você precisa soltar. Porque enquanto suas mãos estiverem agarradas ao velho, não há espaço para receber o novo. E o novo sempre, sempre, tem potencial de ser muito melhor do que aquilo que você tanto teme perder. Basta ter olhos para perceber.
Paula Teshima






