Muitas pessoas dedicam grande parte de suas vidas a parecer boas, corretas e perfeitas aos olhos dos outros. Esse esforço constante, muitas vezes admirável à primeira vista, pode esconder uma motivação muito mais profunda: a busca por reconhecimento. E esse reconhecimento não se limita apenas a elogios ou aplausos presenciais; no mundo contemporâneo, ele também se manifesta em curtidas, comentários, seguidores e interações virtuais, tornando-se uma medida quase compulsiva de aceitação social.
Por trás dessa necessidade de aprovação reside uma tentativa de preencher lacunas emocionais que não foram satisfeitas durante a infância. Quando crescemos em um ambiente seguro, cheio de afeto, atenção e validação genuína, desenvolvemos uma autoestima sólida. Nesse contexto, a necessidade de aprovação externa é mínima, pois aprendemos a confiar em nossa própria percepção de valor. No entanto, quando a infância é marcada por ausência de afeto, críticas constantes ou uma expectativa exagerada de perfeição, a criança internaliza a ideia de que apenas o desempenho impecável garante amor e aceitação.
Essa dinâmica, frequentemente inconsciente, pode se transformar em um padrão de comportamento na vida adulta. A pessoa passa a medir seu valor de acordo com a opinião alheia, buscando incessantemente a aprovação externa. Cada elogio recebido funciona como um reforço temporário, um alívio momentâneo para a sensação de inadequação que persiste internamente. É uma espécie de reparo emocional contínuo, tentando compensar aquilo que não foi plenamente vivido e reconhecido na infância.
O perfeccionismo, nesse sentido, funciona como uma máscara. A aparência de autocontrole, eficiência e bondade esconde a vulnerabilidade que a pessoa sente por dentro. Ao demonstrar sempre competência e virtude, ela espera ser admirada e, consequentemente, validada. Mas esse padrão raramente satisfaz, porque a validação externa nunca é suficiente para preencher a carência profunda de afeto genuíno. Quanto mais elogios recebe, mais se exige, mantendo o ciclo da busca interminável por reconhecimento.
Do ponto de vista psicanalítico, esse comportamento reflete um narcisismo primário precário. O narcisismo primário se refere a uma fase inicial do desenvolvimento em que a criança depende totalmente do cuidador para sentir que sua existência é valiosa e segura. Quando essa necessidade não é adequadamente atendida — seja por falta de afeto, atenção ou presença consistente — a criança internaliza uma sensação de vazio emocional. Na vida adulta, esse vazio se manifesta na forma de uma busca incessante por aprovação externa, tentando compensar o que não foi satisfeito durante os primeiros anos de vida.
Vale destacar que não se trata de uma escolha consciente. Poucos indivíduos reconhecem que sua necessidade de parecer “perfeito” ou “exemplar” é, na verdade, um reflexo de carências antigas. A psicanálise e a psicologia moderna indicam que o primeiro passo para romper esse padrão é a tomada de consciência: perceber que a validação verdadeira não pode vir apenas de fora, mas precisa ser construída a partir de um relacionamento interno saudável, com aceitação, autocompaixão e reconhecimento do próprio valor.
Portanto, a próxima vez que encontrarmos alguém aparentemente obcecado por ser admirado ou por manter uma imagem impecável, é importante lembrar que, por trás da superfície, existe uma busca profunda por segurança emocional e amor que, se plenamente oferecida na infância, teria dispensado essa necessidade contínua de aprovação. A compreensão desse mecanismo permite não apenas empatia, mas também a possibilidade de trabalhar internamente essas lacunas, cultivando uma autoestima autêntica que não dependa de aplausos ou curtidas para existir.
Paula Teshima