Vivemos imersos em uma sociedade que nos apresenta um contrato aparentemente vantajoso: siga as regras, encaixe-se nos padrões, desenvolva habilidades intelectuais, torne-se especialista em algo, e em troca você terá sucesso, prosperidade, conforto material. Parece um bom negócio. Mas existe uma cláusula oculta nesse contrato, e ela está escrita com tinta invisível: você precisará renunciar a si mesmo.
A vida civilizada nos transforma em seres predominantemente intelectualizados. Corremos atrás de conhecimentos que não são inatos, estudamos incansavelmente para desenvolver competências racionais, nos tornamos especialistas em áreas específicas. Trabalhamos, ajudamos pessoas, contribuímos para o mundo, recebemos dinheiro em troca e conquistamos uma vida aparentemente confortável, repleta de posses. Mas todas essas conquistas têm um preço silencioso e devastador.
Esse preço é a desconexão de quem realmente somos. É o afastamento progressivo da natureza, tanto externa quanto da nossa própria natureza interior. Nos tornamos reféns de uma rotina estressante e agitada, dependentes de tecnologias que prometem facilitar nossa vida, mas que, na verdade, nos viciam e nos distanciam ainda mais de nosso poder interior, de nossa criatividade genuína, de nossa capacidade intuitiva.
Quanto mais corremos atrás da modernidade, menos tempo temos para momentos de autorreflexão, para desenvolver nossas capacidades espirituais e emocionais. A intuição, essa sabedoria ancestral que habita em cada um de nós, vai sendo silenciada pelo barulho constante das notificações, das demandas, das expectativas sociais. E nessa corrida frenética, o corpo cobra sua conta: doenças físicas, transtornos mentais, adoecimentos que se multiplicam como sintomas de uma alma que grita pedindo atenção.
Vivemos para sustentar um status social, uma posição de prestígio, sempre dependendo do olhar do outro para nos sentirmos aceitos, amados, respeitados, admirados. Buscamos validação externa para provar que somos alguém na vida, quando, na verdade, estamos nos tornando cada vez menos quem realmente somos. É como se estivéssemos constantemente nos traindo, vendendo nossa essência em troca de aprovação social.
E aqui surge um contraste revelador: os povos que escolhem viver fora dessa estrutura civilizada, mais próximos da natureza e de ritmos orgânicos, apresentam vidas mais longas, mais saudáveis, com menos doenças mentais e adoecimentos físicos. Eles não estão presos na armadilha do progresso autodestrutivo.
Porque é exatamente isso que estamos fazendo: autodestruição disfarçada de evolução. Criamos tecnologias avançadas, aparelhos sofisticados, produtos e serviços que prometem facilitar nossa vida, mas não percebemos que estamos simultaneamente nos destruindo. Vendemos soluções que geram novos problemas, poluímos o meio ambiente, devastamos a natureza, e chamamos isso de progresso.
A grande ironia da civilização é que, ao tentar dominar a natureza externa, perdemos contato com nossa natureza interna. E nessa perda, adoecemos individual e coletivamente, sem perceber que a verdadeira riqueza nunca esteve nas conquistas materiais, mas na conexão profunda com quem realmente somos.
Paula Teshima