A neurose nos coloca diante de um dos paradoxos mais dolorosos da existência humana: o desperdício da nossa força vital em ciclos que não nos alimentam. É como se a pessoa estivesse constantemente correndo em uma esteira, gastando toda sua energia, mas sem sair do lugar. E o mais cruel é que essa corrida acontece simultaneamente em dois planos: no mundo externo e no mundo interno.

Quando olhamos para a dinâmica da libido na neurose, percebemos um desvio dessa energia criativa e sexual que nos move. Em vez de fluir naturalmente em direção ao prazer genuíno e à realização, essa força vital fica aprisionada em um labirinto de fantasias mentais e se descarrega através de sintomas que não trazem nenhuma satisfação real. É puro gozo, no sentido psicanalítico – uma descarga que até alivia momentaneamente, mas não nutre a alma.

No plano externo, isso se manifesta quando a pessoa se vê presa em trabalhos e obrigações que detesta. Ela se esforça, se desgasta, cumpre suas tarefas, mas não há vida naquilo. É como regar uma planta de plástico – todo o gesto está ali, menos a essência que faria aquilo ter sentido. E então essa pessoa busca compensações, pequenos prazeres que tentem preencher o vazio deixado por uma vida sem sabor.

Mas é no mundo interno que a neurose revela sua face mais complexa. A mesma pessoa que se sacrifica externamente sem prazer repete esse padrão dentro de si mesma. Sua energia mental fica consumida por fantasias elaboradas, cenários imaginários, desejos que ela não se permite materializar. É como se houvesse um teatro interno funcionando em tempo integral, consumindo toda a eletricidade da casa, mas com as portas fechadas – ninguém pode entrar para assistir, nem mesmo a própria pessoa pode transformar essas cenas em vida real.

O neurótico se torna prisioneiro de suas próprias criações mentais. Ele imagina, planeja, deseja intensamente, mas não se autoriza a dar o passo seguinte: transformar fantasia em ação, pensamento em experiência. E assim, desperdiça tempo, energia e vida se satisfazendo apenas no plano imaginário, em um tipo de prazer que não é verdadeiramente prazer – porque falta a coragem de encarnar esses desejos.

O resultado é uma vida vivida pela metade. Por fora, trabalho sem sentido. Por dentro, desejos sem realização. A energia vital, que deveria estar criando, amando, construindo, experimentando, fica circulando em um circuito fechado que não leva a lugar nenhum. É como ter fome e, em vez de comer, passar horas fantasiando sobre um banquete.

A saída desse aprisionamento passa por reconectar-se com a própria coragem de viver – não apenas pensar sobre a vida, mas vivê-la de fato, com seus riscos e possibilidades reais de prazer.

Paula Teshima