Psicanálise Não é Para Todos

Não são todas as pessoas que se interessam por psicanálise, desenvolvimento pessoal ou cura interior. Pelo contrário, a maioria das pessoas está voltada para fora, ou seja, olhando para seu mundo exterior, tentando cuidar dos outros e buscando se conectar muito mais com os aspectos materiais da vida. Provavelmente, são pessoas que tiveram uma infância mais saudável, sem muitos traumas e conflitos persistentes. Assim, não tinham com o que se preocupar a nível interno, e direcionaram sua atenção para as conquistas e aprimoramentos externos como, por exemplo, ser bem sucedido no trabalho, ter uma família, casa, carro, posses materiais…
Muitas vezes, a teoria psicanalítica se torna muito difícil de compreendê-la, ainda mais quando a pessoa não tem nenhuma referência em relação àquilo que está tentando aprender. Ou seja, ter nascido num ambiente que não foi suficientemente bom, experienciado traumas, violências, agressões, traições, rejeições… além de ter convivido com pessoas disfuncionais, pode ajudar bastante a entender por que as pessoas agem da forma como agem, sentem da forma como sentem.
Podemos observar que não foi à toa que a pessoa que se interessa em olhar para suas questões negativas, tenha escolhido, propositalmente, nascer num ambiente desequilibrado, caótico e negativo. Tudo tem um motivo. Essa experiência inicial desafiadora a levou a aflorar muitas questões que veio trabalhar nesta jornada. As pessoas, o ambiente, a cidade, a escola, o país… tudo o que acontece durante a infância nada mais são que ferramentas na qual lhe proporcionam viver o que precisa experienciar. Talvez, a pessoa não iria conseguir sair da sua zona de conforto se o trauma, a dor, não tivesse sido tão intensa e constante. E continuaria “levando a vida”, fazendo pequenos ajustes e se anestesiando com as mais variadas fontes externas que existem no mundo.
Ninguém nasce aleatoriamente em tal família, em tal país, em tal condição financeira. Nada é por acaso. Antes de reencarnarmos, estudamos e escolhemos a família, o local e tudo o que irá nos acontecer, assim como nossas características pessoais – cor de cabelo, raça, estatura, habilidades, talentos, etc. Por exemplo, se desejamos nos aprofundar na questão da rejeição, não iremos escolher nascer numa família suficientemente boa. Pelo contrário, iremos desejar ser filho ou filha de pais que irão aflorar o sentimento de ser rejeitado ou abandonado. Provavelmente, pais que viajam muito a trabalho, ter muitos irmãos e irmãs, colegas que praticam bullying, parceiros amorosos que nos traiam. E, neste caso, não conseguiremos lidar com a rejeição de forma saudável. Repetiremos diversas vezes esse padrão ao longo da vida, até que chegue um dia que não aguentamos mais sentir essa solidão, esse desprezo ou essa falta de vínculo. Assim, sentiremos vontade de procurar ajuda de alguma forma. A partir daí, inicia-se um longo processo de aprendizado, crescimento e transformação interior. A dor de ter vivido diversas rejeições abriu portas não somente para compreender essa questão, mas também para o autoconhecimento em diversas outras esferas.
Por isso, psicanálise não é para todos, seja estudantes, pacientes ou profissionais. Para os pacientes, é preciso ter muita coragem ou desenvolver um ego forte o suficiente para conseguir lidar com certas verdades que nunca quis encarar, já que o objetivo é chegar na raiz do problema. Além de estar muito disposto e motivado a realizar mudanças internas, quebrar padrões equivocados, desapegar de seus vícios, ocasionando muitas renúncias e perdas de um ideal ilusório, de quem achava que era. Para os psicanalistas, é preciso ter sofrido MUITO no passado, sobretudo na infância, a ponto de ter desenvolvido uma neurose, e passar a gostar de ser um investigador da mente humana. De certo modo, só os “loucos” conseguirão entender e gostar das teorias psicanalíticas, pois irão reconhecer certos padrões na qual o próprio neurótico já experienciou em si ou em pessoas próximas.
Geralmente, podemos perceber que a vida na qual certos neuróticos escolheram foi tão cuidadosamente planejada, a ponto de sofrer, sofrer, sofrer… por muito tempo, sem ter uma solução eficaz ou sem ter alguém que o viesse lhe socorrer (de verdade), porque a sua salvação nunca esteve lá fora, e sim dentro de si mesmo. Seria ele mesmo que, diante de tanta dor, iria buscar caminhos (não tradicionais) a fim de obter aprendizados, crescimentos e evoluções originados dos próprios sofrimentos. Ninguém está aqui na Terra por acaso. O planeta Terra é uma escola. Como não crescemos apenas com a teoria, escolhemos ingressar num planeta denso como a Terra para colocarmos em prática o que aprendemos no plano espiritual. A hora de agir é agora, enquanto estivermos encarnados neste plano. Aproveitar a vida terrena significa seguir a voz do nosso coração, ter discernimento espiritual e empoderamento pessoal para realizar (quase) todos os nossos desejos.
Paula Teshima