O Recalcado é o Chamado da Alma

Toda repressão fracassa. Tudo o que o indivíduo ignora ou rejeita vai para o inconsciente. Só que esse conteúdo reprimido tende a retornar para a consciência, se tornando impossível mantê-lo inconsciente a vida toda. A não ser se o sujeito fizer muita força para contê-lo preso. No entanto, isso requer muito gasto de energia, auto vigilância constante e preocupação excessiva. Quem escolhe, inconscientemente, fazer isso está preferindo utilizar todo o seu potencial energético para se preocupar com sua aparência física, suas atitudes, seus pensamentos… ao invés de usá-lo para ser uma pessoa criativa, produtiva e resolver suas questões internas.
Toda vez que não queremos olhar para as emoções negativas que vêm à tona, jogamos para o inconsciente, porque não sabemos como lidar com isso ou não estamos a fim de perder nosso tempo com algo que é difícil para nós. Quando isso acontece, uma parte do nosso ser é fragmentada, separada, desconectada de nossa essência. Dessa forma, podemos nos sentir menos vivos, como se realmente uma parte de nós tivesse sido perdida. Muitas pessoas acabam tendo essa atitude simplesmente porque não foram ensinadas desde criança a olhar e lidar com suas emoções negativas. E a maneira mais fácil que a criança encontra é rejeitar ou projetar no outro aquilo que ela não consegue lidar.
É preciso compreender que não estamos aqui na Terra por acaso. Nada acontece por acaso. Tudo sempre tem um motivo. Não estamos aqui somente para viver as coisas boas, passear, nos divertir, ou viver um dia após o outro tentando apenas sobreviver. Existe algo maior a ser realizado. Cada um veio com um propósito divino. Este propósito ajudará a pessoa a crescer e se desenvolver internamente, assim como ajudará a humanidade e a Terra a evoluir.
Quanto menos estivermos conscientes do nosso propósito, ou seja, vivendo acomodado, fazendo sempre as mesmas coisas, não querendo aprender, crescer e se melhorar, mais nos desalinhamos de nós mesmos. Isto quer dizer que, enquanto insistirmos em não querer olhar para nossas emoções negativas e também para os traumas e as dores do nosso passado, mais a nossa personalidade continuará fragmentada, dividida, desconectada. Por isso que essa parte que rejeitamos de nós mesmos não quer permanecer excluída da nossa vida. Ela quer ser reintegrada ao nosso ser. Ela quer ser amada, aceita e validada.
Os sintomas que o indivíduo apresenta – dores, doenças, delírios, alucinações, incômodos, ansiedade, medo… são avisos de que há algo importante a ser reconhecido e aceito. No entanto, não é simplesmente reintegrá-los ao seu ser. É preciso compreender por que o sujeito rejeitou, por que estava com tanto medo, por que considera algo proibido. Essa reflexão poderá lhe trazer grandes aprendizados, autoconhecimentos, e crescimentos pessoais. Uma vez compreendido, elaborado e ressignificado, os sintomas deixarão de existir, naturalmente.
Entretanto, é importante salientar que é necessário mudar a sua conduta de pensar, agir e sentir. Aquilo que não fizer mais sentido, pode se desapegar e ir embora, dando espaço para algo novo ser colocado no lugar. Isso exige muita força de vontade, perseverança, disciplina, energia e tempo. É preciso querer muito mudar a própria vida a fim de obter um resultado mais satisfatório. O sujeito precisará estar atento a cada situação, cada acontecimento no seu dia a dia, para aproveitá-lo e praticar algo que nunca havia feito. É estar disposto a treinar todos os dias, se arriscar, ousar e, principalmente, ser flexível diante das suas falhas e incapacidades.
O apego é algo importantíssimo de ser trabalho. O indivíduo pode tomar consciência de que tal comportamento está lhe prejudicando, mas insiste em não mudar, por conta do apego. Onde há apego há vícios, prazeres e benefícios, repetidos milhares de vezes, há muitos anos, décadas. O tratamento psicanalítico pode ajudar a pessoa a chegar na raiz desse apego, jogando luz nos pontos sombrios e promovendo o desapego de modo gradual, consciente, sem sofrimentos e com mínimas chances de voltar a cair na tentação.
Todos os desejos que surgem na nossa mente não vem do nada. Geralmente, quando tal vontade é despertada, significa que agora está na hora de manifestá-lo de alguma forma. O indivíduo já tem condições de buscar ferramentas, pessoas ou lugares para atender esse desejo. Reprimir um desejo é ir contra a própria vida. É dizer para si mesmo que não há possibilidades, motivos ou permissões. É abafar o impulso criativo, a energia vital, o prazer de viver. É viver a vida toda num estado infantil, limitado, atendendo somente os desejos do superego.
Ao invés de ter medo do conteúdo recalcado, o neurótico precisa fortalecer seu ego, tornando-o forte o suficiente a ponto de olhar para todos os seus desejos e dar um destino saudável. Existem 3 opções: renunciar, manifestar ou sublimar. Após uma auto reflexão, o sujeito empoderado poderá escolher o que melhor lhe convém. Quanto mais fizer isso, mais se tornará um sujeito desfragmentado, inteiro, forte e corajoso. Esse processo ajudará não apenas a voltar à sua integridade, mas também a reconstruir a sua personalidade, tornando-a mais próxima dos ideais da alma.
Paula Teshima