Desde o nascimento, o ser humano carrega consigo uma profunda conexão com o mundo espiritual. Durante a fase de bebê e a infância, essa proximidade é mais intensa, pois a criança acabou de chegar desse plano sutil e ainda mantém memórias e percepções ligadas à essência de onde veio. No entanto, a vida na Terra exige adaptação: regras, limitações, desafios e frustrações formam o ambiente material que a criança precisa aprender a habitar. Esse processo de aterramento, ou de integração ao mundo físico, nem sempre ocorre de maneira harmoniosa.
Quando a criança nasce em um lar disfuncional, onde o afeto é escasso ou as regras são incoerentes, ela encontra maiores obstáculos para se adaptar à realidade material. O desenvolvimento infantil pode ficar marcado por fixações em determinadas etapas da infância, criando vulnerabilidades psíquicas que, em casos mais extremos, podem se manifestar como neurose ou psicose na vida adulta. Nesses indivíduos, o corpo se desenvolve plenamente, mas a mente mantém traços de pensamento infantil, ligados à fantasia, à imaginação e a uma percepção ainda intensa do mundo espiritual. Em termos práticos, isso se traduz na crença em onipotência do pensamento, na força das palavras e em práticas místicas ou de magia. Em outras palavras, a parte do ser que não foi plenamente integrada ao plano material permanece aberta a experiências espirituais e intuitivas.
Há, curiosamente, paralelos históricos e culturais. Freud observou que povos primitivos apresentavam características semelhantes: formas de pensar mais intuitivas, imaginativas e criativas, muitas vezes ligadas ao mundo espiritual. Esses grupos, como indígenas e aborígenes, desenvolveram modos de vida profundamente conectados à natureza e à ancestralidade, com tradições de magia, cura e rituais espirituais. Não se trata de inferioridade intelectual; trata-se de escolhas de existência que privilegiam outros aspectos da experiência humana. Esses povos, assim como a criança ainda não completamente integrada, mantêm uma mentalidade mais aberta às forças espirituais e ao desenvolvimento das faculdades intuitivas.
A inserção gradual da criança no mundo civilizado — por meio da escola, das normas sociais e da vida tecnológica — ajuda a construir a parte material do ser, fortalecendo a razão, o conhecimento acadêmico e a capacidade de ação no mundo físico. Porém, o excesso de foco nesse plano pode criar adultos que desacreditam do poder da mente, das leis universais ou das energias sutis. A falta de experiências espirituais diretas, somada à integração intensa da materialidade, pode gerar ceticismo, afastando essas pessoas da percepção de fenômenos que não se manifestam a olho nu, mas que são reais no nível energético ou intuitivo.
O equilíbrio, portanto, é a chave. Um indivíduo saudável é aquele que consegue viver a materialidade e a espiritualidade em proporções harmoniosas. Ele aceita os desafios da vida, enfrenta dificuldades com resiliência, age no mundo físico de forma consciente, ao mesmo tempo em que mantém a conexão com guias, mentores e energias sutis para canalizar ideias, insights e inspirações. Essa integração permite não apenas o crescimento pessoal, mas também a contribuição positiva para o coletivo, tornando a vida mais plena e iluminada.
Unir o conhecimento moderno ao conhecimento ancestral não é fantasia, superstição ou fé cega; é uma prática de sabedoria. Meditar, mentalizar objetivos, conectar-se com o eu interior e agir com intenção consciente são formas de manifestar os sonhos de maneira concreta. Ao harmonizar ciência, razão, experiência prática e percepção espiritual, o ser humano cria a oportunidade de construir uma realidade onde seus desejos podem se concretizar, vivendo de de uma forma mais completa durante a sua estadia terrena.
Paula Teshima